segunda-feira

III - Bette Davis - Triunfo no Cinema e Crise no Casamento

Bad Sister  e O Homem Deus










Bette e Ruthie chegaram a Hollywood em 13 de dezembro 1930. Aqueles dias eram uns dias revoltos na "Fábrica de Sonhos" porque uma invenção estava mudando completamente a indústria cinematográfica: o som. Com a fala, muitas estrelas do cinema mudo tinha sido demitidos e substituídos por atores desconhecidos até então

Hollywood estava dominado pelo medo. Medo de ser muito jovem ou muito velho, de ter a voz alta ou baixa, que o próximo filme fosse um fracasso ou de escolher o papéis errados. Mas, sobretudo, o medo de que o som fosse um modismo e que todas as mudanças fossem inúteis. Apenas uma emoção superava o medo: a esperança. Um garçom ou uma moça da limpeza poderiam converter-se em estrelas de cinema da noite para o dia e mudar de uma casa modesta no Vale para uma suntuosa mansão nas Colinas.

Quando desceram do trem após uma viagem cansativa de cinco dias, elas encontraram apenas um fotógrafo. Bette e sua mãe gastaram os últimos dólares para pagar um táxi que as levaria para um hotel modesto. Bette sentiu-se muito desestimulada. Hollywood era um lugar quente e empoeirado, muito diferente da Nova York que estava acostumada. As pessoas eram frias e hostis, e a tratavam com grande indiferença. Lá, seus sucessos no teatro valiam menos que uma moeda de 10 centavos.

Bette havia sido contratado pela Universal, uma produtora particularmente afetada pela chegada do som e dirigida por um incompetente chamado Jr Laemmle. A Universal estava atrás da suntuosa Metro, da eficaz Paramount ou da nova empreendedora Warner e duvidava se seria prudente esquecer os filmes mudos e dedicar-se ao sonoro.
 
O maior problema para a Davis era a falta de dinheiro. Bette tinha sido contratada por US $ 450 semanais, mas ainda demoraria algum tempo até receber seu primeiro salário. Enquanto isso, Ruthie decidiu que a única forma de alegrar a filha era sair do hotel imundo que estavam hospedadas e procurar uma casa. Encontrou uma que parecia perfeita, mas o aluguel era US $ 80. Então, Ruthie pediu ajuda a Carl Milliken, um velho amigo da família que lhe emprestou US $ 400. Para não preocupar Bette, Ruthie escreveu uma carta fingindo que era Harlow Davis Morell, que lhes tinha enviado o dinheiro.

Tempos Difíceis
Os primeiros meses em Hollywood foram agoniantes para Bette. Os testes de fotografia e de vestuário que faziam lhe pareciam estúpidos e ela odiada profundamente. Felizmente ela conheceu Reginald Denny, um ator Inglês que a aconselhou e acreditou nela desde o início. Denny também apresentou-a a Bridget Price, uma mulher paciente e gentil, que anos depois viria a ser sua insubstituível secretária pessoal.

"Ela tem tanto sex appeal quanto Slim Summerville."
Carl Laemmle, chefe da Universal, sobre Bette Davis

Naqueles dias difíceis, Bette sentia falta de Ham Nelson. Ele escreveu muitas vezes, e em uma carta, ele anunciou que iria viajar para Los Angeles em breve para tocar com a banda das Olimpíadas. Bette desejava se casar com Ham, mas sua mãe lhe disse que ainda não era o momento.
 

Quando estava começando a ficar cansada de Hollywood, Bette fez seu primeiro filme, "Bad Sister", no qual também trabalhou um jovem chamado Humphrey Bogart. Era um filme ruim e, ainda por cima, difícil de rodar, porque os técnicos ainda não haviam dominado os problemas com som. Desde o início, Bette detestou Bogart, por considerá-lo rude, bêbado e extremamente chato. Com todos esses problemas não é de estranhar que sua atuação não tenha sido brilhante.


Apesar de Bette também odiar Jr. Laemmle, esse lhe deu outra chance e a colocou no elenco de "Seed", um drama que foi um completo fracasso nas bilheterias. Ham foi visitá-la, mas quando ele foi embora, Bette ficou muito deprimida e isso afetou seu trabalho em "Waterloo Bridge". No entanto, esse foi um bom filme e seu diretor, o excelente James Whale, soube aproveitar sua vulnerabilidade para a interpretação.

Aproveitada pela Warner
Ela estava em Hollywood há mais de 1 ano e não tinha feito nada de notável. A Universal começava a deixá-la de lado e ela estava convencida de que era hora de retornar a Nova York. Então, a sorte que sempre a acompanhou apareceu e ela recebeu um telefonema de George Arliss, um astro muito respeitado da Warner  que a convidou para ser sua parceira em "The Man Who Played God", um drama ambientado em Londres no qual o talento Bette pudesse enfim, aparecer.
 
A Warner era uma empresa jovem e empreendedora, que trabalhava com orçamentos pequenos e apertados e cujos filmes, diferente das luxuosas produções da Metro, sempre focavam os personagens. Aquela era a produtora na qual o tipo de interpretação sincera de Bette encaixava perfeitamente.
 
Seu trabalho em "The Man Who Played God" deu um importante impulso em sua carreira e em 1932 gravou cinco filmes. Esse ano ela quase morreu queimada quando seu carro pegou fogo em frente a sua casa. Bette forçou a porta, mas foi Bobby, que saiu correndo de casa a tirou daquele inferno, salvando sua vida. Seu trabalho no estúdio proporcionou sua amizade com outra jovem estrela, a loira Jean Harlow, e com George Brent, um galã de origem irlandesa, por quem Bette se apaixonou. Brent, contudo, não correspondeu

Com sua mãe, recém chegada a Hollywood em 1930
Primeiro Casamento
O fato de que Bette ainda ser virgem estava começando a ser prejudicial ao seu trabalho, já que muitas vezes interpretava personagens com uma forte carga erótica. Ela e Ruthie sentaram e discutiram o assunto. Ham era um homem saudável, ganhava um salário e tinha a idade apropriada. Era, portanto, um candidato aceitável. Foi dessa forma extremamente romântica que Ruthie escolheu um marido para sua filha.

Quando Ham se declarou, Bette aceitou tão rapidamente que ele ficou atordoado. O casamento não foi nada de especial. Para evitar ter que esperar o tempo necessário, casaram na Califórnia. Bette, sua mãe e seu namorado viajaram sob um sol escaldante para o Estado de Arizona. Chegando em Yuma, Ham comprou o anel e se casaram em uma capela modesta.

Os problemas no casamento não demoraram a aparecer. Ham era um homem delicado e pouco ambicioso e era difícil suportar ser o marido de uma mulher famosa. O trabalho de ambos dificilmente dava-lhes tempo para ficarem juntos e era humilhante para ele ser praticamente mantido por Bette (logo ela ganharia dez vezes mais do que ele).

Ham e Davis
Essa situação deixava Bette terrivelmente perturbada, pois para ela família era mais importante. A vida social era seu único consolo e começou a freqüentar muitas festas, acompanhada de Ruthie e sem Ham. A mãe começava a colher os benefícios do sucesso da filha

Bobby, com ciúmes do sucesso da irmã, tentou ser atriz também. No entanto, não tinha talento e foi rejeitada pelos estúdios várias vezes. Instável e beirando a esquizofrenia, sofreu um colapso e Ruthie teve que acompanhá-la no tratamento. Trancada em um centro, ela passava os dias a gritando que a irmã tinha roubado sua oportunidade na carreira.

O único filme de destaque que Bette gravou neste período foi "20 mil anos em Sing Sing". Ela trabalhou com Spencer Tracy e dali nasceu uma amizade e admiração mútua que se manteve ao longo dos anos.


20 mil anos em Sing Sing


Apesar de suas muitas diferenças, Bette e Ham se agarraram à sua relação desesperadamente. Seu progresso no cinema mudou sua personalidade e ela tornou-se mais nervosa, exagerada e dramática. Sua reputação cresceu e a permitiram fazer "Of Human Bondage", no qual interpretou um papel que assustou todas as atrizes de Hollywood, pois teria que aparecer feia e desagradável. 

Foi um filme que quis fazer com toda a tua alma, mas ficou grávida e decidiu abandonar o projeto. No entanto, quando ela contou à Ham, ele se assustou e disse-lhe para se livrar da criança. Ham não queria filhos porque se envergonhava por não poder mantê-los. Ruthie, que temia perder seu status recém-adquirido, também aconselhou o aborto. Com o coração partido, Bette fez o que aconselharam, mas esse foi o começo do fim de seu relacionamento com o marido.


Créditos: Aqui

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